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MP-GO investiga maus-tratos a animais de circo de Goiânia; artistas dizem que bichos são da família

Rafhael Borges

Do UOL, em Goiânia

25/05/2012 06h00

Um inquérito civil público foi instaurado pelo MP-GO (Ministério Público de Goiás) para investigar a exposição de animais exóticos e possíveis maus-tratos no Circo Zanchettini, em Goiânia. A medida foi tomada após o recebimento de denúncias de moradores da região e de organizações de defesa dos animais.

De acordo com o promotor Marcelo Fernandes Melo, a manutenção e exposição de animais exóticos e silvestres em circos são totalmente inadequadas e inconvenientes. “Isso ocorre devido à ausência de legislação estadual e municipal, que impeça essa situação”. No local são mantidos uma leoa, um leão, um tigre, uma lhama, cavalos e cachorros.

O Mnistério Público requisitou à Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), em caráter de urgência, um laudo técnico para verificar as denúncias, e também à Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico (Semtur), informações quanto à existência de alvará de localização e funcionamento do circo.

Ainda não há legislação federal que regulamente as atividades circenses no país e a presença de animais nos picadeiros. Alguns Estados, como São Paulo e Minas Gerais, publicaram leis proibindo o uso de bichos em apresentações. No congresso tramita o projeto 7.291/2006 que prevê a proibição, mas sem previsão de entrar em pauta para votação. Em Goiás não existe previsão legal, e cabe aos órgãos de fiscalização, como o Ibama, controlarem as atividades.

Outro lado

O circo, que atualmente se apresenta com cerca de 40 artistas, afirma que as denúncias não procedem, e que estão sendo "vítimas de perseguição por parte de pessoas interessadas em recolher os animais para outros fins". Em uma carta, que vão enviar nesta sexta-feira (25) ao Ministério Público, dizem que a empresa não possui nem mantém nenhum animal em situação degradante. “Não há maus-tratos ou abuso de animais neste circo”.

Segundo Erimeide Zanchettini, uma das integrantes da trupe, todos os animais são registrados, de propriedade do grupo e alguns já são filhotes de outros bichos. Alega ainda que o circo é reconhecido legalmente e tem empresa constituída. “Nós recebemos do governo federal, pelo programa Pró-Cultura, um incentivo de R$ 200 mil para levar nosso espetáculo para três Estados. Se não cuidássemos bem dos nossos bichos e tivéssemos toda nossa documentação organizada, a gente receberia esse dinheiro?”, questiona.

Outra responsável pelos animais, Solange Zanchettini, diz que eles fazem parte da família, e que seria como se maltratassem os próprios filhos. “A Laina [leoa], por exemplo, está com a gente há quase 28 anos. Temos veterinário que cuida deles, e nós mesmos já aprendemos o que é melhor para os bichos”.

A família ainda contou à reportagem do UOL que são autores de um anteprojeto de lei para regulamentar toda a atividade circense, inclusive no que tange ao trato com os animais. E que muitas entidades que têm interesse comercial nos bichos, tentam barrar a aprovação no Congresso Nacional para que possam se beneficiar de várias formas.

Sílvio Zanchettini afirmou que os animais foram recolhidos a uma fazenda onde vão passar por todos os exames necessários e não vão participar das apresentações nos próximos dias para serem preservados. “Já jogaram veneno para bichos de circo, para depois recolher e empalhar o animal, deixar ele exposto e ganhar dinheiro com isso. Nós queremos o melhor para nossos animais, que são da nossa família”.

Manifestações de apoio

O "inspetor Souza" --como insiste em ser chamado-- da ONG ambiental Guardiões do Verde, foi conhecer o espaço na noite de quarta-feira (23), após as denúncias, e contou ao UOL que já viu muitas situações preocupantes, mas que ali era diferente. “Os animais são bem tratados, bem alimentados, não vimos nada de errado”.

Os vizinhos Miquéias, Lorhayne e Luana Villete acompanham o trabalho desde que o circo foi instalado em frente ao prédio onde moram, há três semanas. Segundo eles, o principal era observar se os animais eram bem tratados.

“Se tivesse algo de errado, eu seria a primeira a denunciar”, afirmou Lorhayne. O irmão e a prima dizem que a atividade circense não os atraía, mas depois que viram os bichos bonitos, bem alimentados, e passaram a acompanhar os bastidores, mudaram de opinião.